Cheguei a casa. Entrego o saco ao canto da cozinha e vou lavar as mãos como sempre, ainda meio ofegante. Espasmo no joelho, nada de mais, foi o esforço. A sensação é boa! Olho o relógio enquanto tiro os auscultadores dos ouvidos. 23:11h, chegar a tarde e a más horas, de novo. Não faz mal!
Enquanto procuro pelo frigorífico algo que se cozinhe, toco na ferida que tenho na anca, contraída hoje. “Ainda tenho de desinfetar isto melhor”, penso eu, tirando uma caixa de ovos. Hoje é quinta-feira, no fim-de-semana há jogo mas não estou preocupado. Hoje esfolei-me (literalmente) para ser titular. E se não for? Pois, o problema é esse! Espero que o meu trabalho compense, como tem compensado. Afinal de contas, dei o meu máximo, ninguém me pode pedir mais!
Consegui melhorar a receção hoje, já não deixo fugir tanto a bola. Irritava-me imenso ter de dar um mini sprint depois do primeiro toque após um passe longo. Eram centésimos de segundo em que perdia a imprevisibilidade que me marcava. Sentei-me na mesa com o prato à frente e começo a comer. Depois de fazer o “holandês” aquele exercício que todos se queixam, mas que eu, como sendo dos elementos mais velhos, não me posso queixar o Nano veio à minha beira e disse-me: “Vamos lá Ruizinho, só mais uns sprints, ninguém te pára hoje!” Foi como 3lts de RedBull! Confiança no auge, vamos lá para a parte final do jogo, onde não se pode falhar: jogo! Hoje não passa nada, nem hoje nem nunca! Siga!
Do outro lado está o rapaz mais rápido e mais imprevisível da equipa, não podia ter tido mais azar, ou sorte! É o nosso melhor extremo, mas quem melhor para me treinar?! Do meu lado está o capitão, tudo seguro com este! “Siga lá pessoal, fazer esta bosta direito para Domingo ganhar!”, gritei eu! Depois de 10 minutos lá veio o carrinho que tive de fazer para evitar um remate, pedras, areia e terra é o que não faltam na minha anca. Não pára! Segue sempre! Há uma equipa para proteger, um lugar a defender, pessoas que não merecem ser desapontas! Temos de querer isto, a vitória, a glória, a evolução, mais que eles, por isso a dor tem de ser posta de parte!
Acaba o jogo, procuro água e passo na ferida! “C%(&$*-?!!! Isto arde!”, ao que se aproxima o meu treinador e diz: “Bom treino Ruizinho!”. Já posso descansar em paz hoje, deixei quem mais interessava satisfeito! Ligo a televisão e em pouco tempo adormeço.
Domingo! Dia de jogo! Escorre-me o suor depois do aquecimento. O dia está quente, o ar seco e estamos a jogar em casa. Visto a camisola de jogo enquanto o “mister” diz o meu nome na lista de titulares. Já está! Nervosinho miúdo presente! Por mais jogos que se façam, ele está sempre presente! Vou e cumprimento o Nuno, “Vamos mano!”, responde-me ele e sorri! Subo as escadas do túnel e as pessoas lá fora batem palmas, os poucos resistentes que vêm ver a equipa local jogar. Por muito poucos que sejam, têm de ser sempre honrados! Acreditam em nós e não merecem uma derrota. Levamos na cabeça as palavras ditas no balneário. O jogo não é fácil mas juntos, unidos, iremos sempre conseguir! Apito inicial: adeus mundo! Estou no futebol agora e só quero saber da bola, do extremo adversário e que o marcador tenha um número mais alto para o nosso lado! Estamos intensos hoje, é assim que gosto, jogo rápido onde não me canso! Vamos a ganhar para o intervalo! “É continuar, ir para cima deles! A bola tem de ser nossa, dê por onde der! Nem que tenham de comer areia!” Disse-nos o mentor! “BORA LÁ!!!”, grito eu enquanto subimos as escadas ela segunda vez. O meu treinador passa por mim e diz que estou perfeito hoje, para continuar! As melhores palavras que podia ouvir foram ditas. Confiança, audácia, tudo no auge! Hoje é o meu dia! Abri de novo a ferida, quem se interessa? Não se sente nada! A paixão é maior, a dor é secundária! Todos os teus sentidos estão focados apenas naquilo e durante pouco mais de uma hora e meia, o teu mundo gira apenas em torno daquilo. Aquilo que amas! Acaba o jogo e podemos ir para casa com uma vitória, agradecemos aos adeptos e ouve-se: “Bom jogo Ramôa!”, é tudo que se pede! Reconhecimento de quem está contigo, a teu lado mas também de quem vê de fora!
E isto é paixão! Paixão que não morre! Tenho pena de quem não pode sentir isto, de quem não sabe o que é isto. De quem não sabe o que é este compromisso, esta entrega, esta dor, este amor! Afinal que sabem eles o que é união, trabalho de equipa, sucesso, glória? Que sabem eles o que é orgulho? Orgulho em ti próprio, orgulho nos outros! Que sabem eles se ninguém se orgulha deles a este ponto? Que sabem sobre o que é uma equipa? Que sabem sobre quem sou, se nunca me viram jogar, se nunca viram que sou temperamental mas que não o mostro, que sou benevolente, que sou certo mas não agressivo… Que sabem eles da vida se nunca tiveram nada disto? A felicidade não consiste em fazer o que gostamos apenas. Mas sim gostarmos do que fazemos, da dedicação, do esforço, da dor…
terça-feira, 25 de junho de 2013
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Orgulho, que é isso mesmo?
Quando é que podemos dizer realmente que deixamos toda a
gente orgulhosa? Orgulhosa de nós, do que somos, do que fazemos, do que
fizemos, sabemos, construímos, do que nos tornamos, quando? É uma pergunta que
tem estado na minha cabeça há já algum tempo.
A mim, parece-me que, claramente, não podemos agradar a toda
a gente. Mas isso já era sabido. Os que nos são próximos prezam coisas
diferentes, sejam objectivos mais profissionais, outros mais lúdicos,
desportivos, o que seja! Pessoalmente, prezo imensamente a educação não-formal
e, diga-se de passagem, já ganhei muito com muitas acções de educação não-formal
a que participei!
Sou um sortudo que já esteve em dois intercâmbios, sendo um
deles na Eslováquia e outro cá em Portugal do qual fui monitor e organizador.
Sou um sortudo que já participou em inúmeros encontros de associações juvenis,
partilhando conhecimentos, sinergias, esforços, dedicação. Sou um sortudo que
já participou em mais formações do que aquelas que se consegue lembrar. Sou um
sortudo que já foi voluntário na Cruz Vermelha. Um sortudo que trabalha desde
os 14 anos, procurando sempre ser o mais independente possível. Um sortudo que
sempre procurou saber mais do que o que às vezes conseguia. Um sortudo que
treinou uma equipa de futebol de Benjamins, formador de xadrez juvenil, que tem
o curso de árbitro de futsal, xadrez e de voleibol do desporto escolar. O
sortudo que tem oportunidade de poder criar agora raízes no voleibol, pois,
estou a dar agora os primeiros passos na “carreira” de treinador de formação.
Sortudo sou, por saber esculpir esferovite, por saber que materiais usar para o
pintar, para o cortar de forma adequada. Sortudo sou, por ter tido todas estas
oportunidades e muitas mais. Azarado sou, por nem toda a gente reconhecer a minha
sorte.
Sou o mesmo sortudo que está neste momento no 3º ano consecutivo
a tentar fazer Matemática A, no 12º ano. Esquisito não é? Nunca foi fácil! Mas
eu sempre o tornei mais difícil. É revoltante, para mim principalmente.
Frustrante! O ano passado foi “por uma unha negra” que não fiz a disciplina. A
vida é assim, prega-nos estas “rasteiras”. Faz-nos recuar hoje 2 passos para
amanhã podermos avançar 4 ou 5. Assim espero eu, pelo menos.
A verdade é que com esta história da Matemática,
aparentemente, tenho cada vez deixado mais desiludida uma pessoa que é das mais
importantes das minha vida, se não mesmo a mais importante. A minha demora em
fazer a disciplina, causa-lhe imensa revolta. Como eu a compreendo. Ninguém
está mais revoltado que eu, só quero se perceba isso! A frustração que me
invadiu, foi a maior que alguma vez senti! Que se dane o Benfica perder o
campeonato no Dragão, a final da Liga Europa ou o meu joelho sem remédio, o meu
futuro sempre foi mais importante para mim também! Que se dê valor a tudo o que
já alcancei, todas estas coisas que sei que não são poucas, e todas as outras
que não referenciei!
Sou um sortudo que tem tido azar. Um azarado, que no meio do
azar tem alguma sorte! Sortudo por ter muito conhecimento nas mais diversas
áreas, azarado por não ter o apoio que precisa nas horas mais difíceis das
pessoas que, supostamente, deveriam ser as primeiras a oferecê-lo. Nada que me
faça desistir. Algum dia irei provar que para mim também é possível e que
poderei ter o meu momento de brilho.
Quero apenas acreditar que ele está para vir. Acredito mais
hoje que ontem, pois, ontem não sabia o que sei hoje! Ontem não tinha quem
tenho hoje e hoje, sou melhor que ontem. Obrigado por tudo, vida! Por tudo e
todos que puseste à frente deste sortudo. Relembro-te: serei mais teimoso do
que tu, sempre! Haverei de te deixar orgulhosa a ti também, a ti como a quem mais
interessa, nem que seja pela coisa mais pequena. "A vontade
pode e deve ser um motivo de orgulho superior ao talento."
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